Renovação geracional como pilar da sustentabilidade na pecuária extensiva

Rui Garrido | Presidente da ACOS

Quais as principais preocupações e ameaças que identifica em relação à pecuária extensiva?

A pecuária extensiva é praticada desde tempos imemoriais em toda a região mais interior do país que faz fronteira com Espanha, em que se utilizam maioritariamente vastas áreas de pastagens naturais. Como tal, é uma atividade muito sujeita às contingências climáticas, que se vêm agravando de ano para ano com a ocorrência de sucessivos anos de seca. A consequência imediata á a escassez de pastagem e fraca disponibilidade de recursos alimentares em geral, que conduz cada vez mais a uma dependência de alimentação para os animais vinda do exterior do sistema. Esta situação tem implicado um aumento generalizado do preço dos fatores de produção, o que tem conduzido a uma cada vez menor rentabilidade das explorações pecuárias. Este contexto técnico-económico é muito semelhante nos dois lados da fronteira e daí a necessidade que sentimos de lançar um amplo debate de modo a encontrar as melhores estratégias de política agrícola para sustentar este sector e manter uma vasta área do território rural ocupada. A pecuária extensiva não tem sido historicamente uma das prioridades das sucessivas PAC’s. Uma vez que o PEPAC está atualmente em reestruturação, julgamos que é altura de realçar o papel desta atividade captando apoios para a mesma. Dado que os problemas são semelhantes dos dois lados da fronteira, uma atuação conjunta terá mais peso e probabilidade de ser bem sucedida. Daí o Congresso contar com uma sessão dedicada à PAC com a participação de confederações de agricultores, técnicos dos serviços oficiais e dos responsáveis máximos dos Ministérios da Agricultura dos dois países.

Outra questão que afeta o sector é que, apesar da qualidade reconhecida dos produtos animais originados neste sistema de produção, a mesma não tem sido devidamente valorizada, de forma a incorporar mais-valias para os produtores na origem. Justifica-se aqui uma melhor articulação de todos os elementos da fileira, a começar por uma melhor organização dos produtores ao nível da comercialização. O associativismo é absolutamente crucial e neste âmbito temos que seguir o exemplo dos nossos colegas espanhóis que têm evoluído muito. De referir que o principal destino das nossas exportações agroalimentares é Espanha.

O IV Congresso Luso-Espanhol de Pecuária Extensiva tem como mote “Caminhos para a Sustentabilidade e Renovação Geracional”. Como tornar esta atividade sustentável e atrativa para os jovens?

Um dos pilares da sustentabilidade da pecuária extensiva no futuro é a necessidade de atrair gente jovem para esta atividade. A idade dos nossos agricultores é já bastante avançada. De acordo com os dados estatísticos, apenas 4% dos agricultores têm idades inferiores a 40 anos, pelo que se torna absolutamente necessário definir políticas de apoio atrativas para atividades no mundo rural. De acordo com um recente relatório sobre o futuro da agricultura na União Europeia, o problema da renovação geracional é transversal a todos os países membros. Entre algumas medidas propostas, constam a concessão de incentivos mais vantajosos à instalação de jovens agricultores, a promoção de esquemas de acesso à aquisição de terras através da criação de linhas de crédito de médio e longo prazo com juros bonificados, a promoção da igualdade de género e a implementação de medidas de inovação social em territórios rurais. Constituindo a pecuária extensiva a atividade económica principal destas regiões, há ainda necessidade de dispor de ensino agrícola qualificado, com acesso às modernas tecnologias de informação e comunicação em todo o território, facilidade de acesso a condições de saúde, acesso à cultura e acessibilidades condignas que permitam rápida mobilidade de pessoas e produtos. Há certamente mais aspetos a considerar, uns mais específicos de cada país da UE do que outros, mas que, sendo muito similares no contexto ibérico, certamente serão motivo de reflexão no congresso que estamos a organizar.

Que políticas de fundo considera importantes para promover o desenvolvimento da pecuária extensiva?

A pecuária extensiva é uma atividade com significativo peso económico, contribuindo para a ocupação do território rural de uma vasta região do interior do país. A definição de políticas de apoio ao desenvolvimento rural passam pela avaliação do seu papel produtivo e contributo para a soberania nacional de alimentos bem como dos aspetos sociais, económicos e ambientais. Nas nossas regiões transfronteiriças em particular, as alterações climáticas estão a contribuir para secas prolongadas, sendo a água um elemento essencial para a continuidade da atividade. Entre várias medidas de política de apoio ao sector, algumas já referidas anteriormente, há necessidade de canalizar investimentos para a região de modo a garantir recursos hídricos, em primeiro lugar para as populações residentes e depois para abeberamento dos animais e para pequenos regadios de apoio a forragens e pastagens para os animais. Esta é a única forma de garantir a sustentabilidade ao sector sob pena de abandono progressivo. Através do Centro de Competências do Pastoreio Extensiva, que congrega entidades do mundo académico, associativo e empresarial, estão a ser estudados os vários domínios da pecuária extensiva que depois poderão ser materializados em medidas de apoio ao sector.

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