Quais as principais preocupações e ameaças que identifica em relação à pecuária extensiva?
A seca é sem sombra de dúvida uma das ou talvez a maior preocupação/ameaça que paira sobre a pecuária extensiva. As alterações climáticas, no sul do Baixo Alentejo, têm-se manifestado maioritariamente na forma de secas prolongadas. Sem chuva não há pastagens, não há produção de cereais, fenos, palhas, restolhos e nem água para o abeberamento animal. Em suma, a atividade agropecuária nos territórios de sequeiro do Baixo Alentejo está condenada a muito curto prazo se nada for feito para que alguma água venha também para estes territórios. Estou a referir-me à criação de novas barragens, do aumento da capacidade das barragens existentes, da vinda da água de regiões/locais de onde ela é abundante para zonas onde é escassa … fazer da água uma prioridade nacional a nível das políticas públicas de investimento. É essencial que a água chegue aos territórios onde ela é manifestamente insuficiente. Água é desenvolvimento, é coesão territorial, é economia, é absolutamente indispensável para a sobrevivência destes territórios.
O IV Congresso Luso-Espanhol de Pecuária Extensiva tem como mote “Caminhos para a Sustentabilidade e Renovação Geracional”. Como tornar esta atividade sustentável e atrativa para os jovens?
É necessário dotar estes territórios de infraestruturas que assegurem dignidade para aqueles que equacionam fazer aqui a sua vida e construir as suas famílias, pois sem saúde, educação, cultura, sem um rendimento do trabalho, da atividade agro-pecuária que permita sustentar a família e ter uma qualidade de vida razoável/aceitável, não é possível atrair jovens que queiram dedicar-se a esta atividade, neste território … é necessário investimento.
Temos uma paisagem magnifica, uma gastronomia fantástica, as nossas produções agropecuárias têm altíssima qualidade, mas sem investimento público, sem apoios/incentivos que minimizem as desvantagens comparativamente aos grandes centros urbanos a nível da saúde, educação, cultura, economia, etc., será muito difícil atrair os mais jovens.
Por outro lado, a agropecuária extensiva de sequeiro é uma atividade em que as suas produções, que são de elevada qualidade, não são devidamente valorizadas. Temos o problema das secas com todas as questões negativas que dai advém, políticas desajustadas que não têm em consideração as especificidades destes territórios … será necessário, em primeiro lugar, que exista vontade por parte dos decisores políticos de querer perceber todas estas questões.
Que políticas de fundo considera importantes para promover o desenvolvimento da pecuária extensiva?
Parece-me que terá que existir uma nova abordagem para estes territórios inclusivamente a nível da política, do peso político destes territórios. Os políticos tendem a perseguir os votos e os votos estão nos centros urbanos e é para estes territórios que as políticas são feitas e adaptadas, o investimento é aí, maioritariamente, realizado… Um território enorme (Beja, Évora e Portalegre) elege 8 deputados, 1/3 do território … como podem estes 8 influenciar politicas para os seus territórios, captar investimento público para estes territórios… ano após ano o fosso aumenta … menos população menos deputados … menos deputados menos investimento publico, menos políticas adaptadas a estes territórios.
Tem que se ver o País como um todo e realizar mais investimento nos territórios do interior. Cada vez as políticas para o mundo rural e para interior são feitas por quem não conhece os territórios, as potencialidades dos mesmos, a cultura e as tradições e, mais grave, sem qualquer respeito por quem aqui trabalha e vive. Será necessário rever a forma da representatividade destas regiões na política nacional porque se assim não acontecer o fosso entre estes territórios e o mundo urbano vai aumentar e em breve iremos eleger 6 deputados … 3 e por fim 0.
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